sexta-feira, 10 de agosto de 2012

SPEKTRO: o terror nacional já esteve firme e forte numa HQ polêmica e bastante significativa. Um achado!

Capa da Edição nº 10 da Spektro



 Resolvi trazer para vocês outro Especial, mas calma, ainda não é a Parte II dos zumbis (sim, terá uma!). Desta vez vos trago uma certa descoberta que fiz ao vasculhar alguns cantos sombrios da Internet. Certo, é brincadeira! Eu simplesmente estava a procurar algumas curiosidades a respeito do meu autor favorito: Howard Phillips Lovecraft, um escritor norte-americano celebrizado pelas suas obras de fantasia e terror, marcadamente góticas, enquadradas por uma estrutura semelhante à da ficção-científica. E não falarei mais dele, pois este post não tem a intenção de debruçar-se diante de sua história, isso eu deixarei para uma outra hora, afinal tenho muito a falar deste grande autor. O negócio aqui é o seguinte, como disse, estava eu a procurar sobre ele e descobri que numa edição de uma antiga revista em quadrinhos brasileira, a Spektro, ele havia sido mencionado (e parece-me que não somente uma vez!). Ou seja, tive que procurar saber mais sobre esta revista, pois eu realmente não fazia ideia de sua existência num passado um pouco (porém nem tanto) distante de nosso país.

 Os leitores mais jovens podem não saber, mas entre os gêneros de quadrinhos que sempre fizeram sucesso em território nacional, o terror merece grande destaque. A Spektro foi, e ainda é, uma representante especial em meio a tantas publicações de quadrinhos brasileiros, principalmente no que diz respeito a histórias sobre o sobrenatural e o fantástico.  Lobisomens, vampiros e monstros, ou até religiões diversas (com seus anjos e demônios), passando até por alguns "causos" verídicos (e outros nem tanto) eram sempre temas de seus desenhos e contos. Publicada pela Editora Vecchi entre os anos de 1977 e 1982, durou 28 edições. Tinha mais de 160 páginas por edição e era toda em preto e branco (com exceção, claro, da capa). No início, eram publicadas apenas histórias do Dr. Spektro, personagem da editora americana Gold Key. Como o número de histórias com esse personagem era pequeno e o sucesso foi grande, foram incorporadas, a partir da segunda edição, histórias da editora Fawcett (Dr. Morte e Dr. Mistério) e republicações de material nacional da década de 60, que saíram na revista Clássicos do Terror. Em seguida, foi a vez de entrarem histórias da editora Charlton Publications (Dr. Graves).

 A revista tinha algumas características básicas, como o uso de personagens como narradores, o que era uma constante. No entanto, como provavelmente não havia pacientes em número suficiente para tantos doutores, com o passar do tempo e numa busca por um material realmente original, as histórias nacionais passaram a ter cada vez mais destaque, até que passaram a publicar 100% material brasileiro. O diretor da redação, Otacílio d'Assunção Barros (mais conhecido como Ota) era extremamente proficiente, afinal, além da função de editor, acumulou também a de roteirista, escrevendo várias e várias histórias para desenhistas diferentes, utilizando-se inclusive de diversos pseudônimos. Realmente fantástico! Os artistas, pelo jeito, eram um show à parte. Spektro lançou no mercado gente como Watson Portela (nascido por aqui em Pernambuco, mais precisamente em Recife) e Mano, além de contar com a participação permanente de Flavio Colin, Júlio Shimamoto, Manoel Ferreira, Itamar, Lobo, Eugênio Colonnese e muitos outros.
Watson Portela

Algumas séries de sucesso da revista:

Hotel Nicanor - Flavio Colin criou, juntamente com Ota, a série do Hotel Nicanor, um hotel escondido no interior que recebia estranhos hóspedes, todos monstros canibais e assassinos. Um estilo caricatural, bastante divertido, que prende a atenção do leitor página após página. Ota assinou o roteiro sob o pseudônimo de Juka Galvão, uma roteirista mulher (hahá!).

Chegaram os tempos - Uma ótima história publicada em três partes sobre anjos e demônios. Olendino escreve e desenha a trajetória de uma garota que recebe um demônio e fica grávida do mesmo. O anjo Gabriel intervém e expulsa o demo, porém comete o pecado de apaixonar-se pela garota (haja drama!). A ira divina recai sobre ele, que decide ficar com sua amada. Eles transam e ela engravida, sem saber que Gabriel deixou de ser um anjo, pois, por ter caído em tentação, foi transformado em demônio. A vinda do anticristo estava assegurada.

Trio Diabólico - As histórias desenhadas por Mano, principalmente o "trio diabólico" formado por Sinhá Preta, o Filho de Satã e o Homem do Patuá, quando publicadas, chegavam a aumentar as vendas da revista. Cabe aqui um elogio ao artista: ele situava seus enredos historicamente, respeitando a linguagem e os elementos do sertão nordestino, como os cangaceiros, os coronéis e seus capangas, a seca, a pobreza e a fome (tive que destacar isso!).

Paralelas - Essa série de Watson Portela foi publicada originalmente nas edições de Spektro de números 8, 10, 20 e 21, e levou o artista a ser conhecido nacionalmente. Ele era um dos preferidos entre os leitores. Todas essas histórias fizeram tanto sucesso, que seus protagonistas acabaram voltando nas edições seguintes.

 Vale destacar participações de artistas americanos, como: Steve Dikto (Homem-Aranha) e Mick Zeck (Mestre do Kung Fu, Capitão América).

Fatos e curiosidades sobre a revista:

 A Spektro foi uma das primeiras revistas a publicar, no Brasil, uma história desenhada por John Byrne (Superman, X-Men). Foi no número 13, e a aventura, chamada Os Herdeiros do Apocalipse, falava sobre os passageiros de uma espaçonave que, ao partirem em uma viagem para Marte, presenciam no planeta Terra o holocausto nuclear, conseguem voltar e pousam na Groenlândia, onde encontram um gigante primitivo, mamutes e tigres dente-de-sabre (acredite se quiser!). Não consta se o argumento é ou não do Byrne. A história era mais voltada para ficção científica do que para o terror puro e simples.

 Essa mescla entre autores nacionais e internacionais deu margem a uma comparação interessante. O ingrediente "sexo" praticamente não aparecia nas histórias que vinham de fora, devido principalmente ao Comics Code, a lei que coibia e censurava o que era publicado nos Estados Unidos. Já nas histórias nacionais a coisa era bem diferente, digamos que sexo era um "ingrediente fundamental". Além de aumentar o interesse do leitor, com certeza era uma diversão a mais, principalmente para os jovens leitores da época.

 Outro ponto forte nas histórias nacionais era o humor, principalmente aquele humor considerado dúbio e obscuro. Um ótimo exemplo é De Volta ao Mundo do Terror, publicada em Spektro nº 23, onde o desenhista Colonnese sonha com personagens de terror de sua criação exigindo que volte a desenhar e, por isso, ele procura o editor Ota, solicitando sua inclusão na revista. No final, Ota agradece ao capeta por ter colaborado para a volta do artista (ri muito quando li sobre isso!).

 Uma característica interessante, presente principalmente nos primeiros números, eram artigos com contos de terror, biografias de escritores e desenhistas famosos (sempre relacionados ao gênero) como, por exemplo, H. G. Wells, Edgar Allan Poe, H. P. Lovecraft (o que me trouxe até aqui!) e outros, além de textos sobre filmes de terror, diretores e atores. No número 19 foi publicado um dicionário dos rituais afro-brasileiros (alguns termos relacionados). Enfim, um prato cheio para os fãs. Toda edição tinha uma seção de "Humor Negro", com diversas piadas.

  Em 1994, Ota relançou a Spektro pelo seu selo, o Otacomix, em formato americano, com três histórias. A revista não vingou, pois teve baixas vendas, principalmente, por causa dos problemas com a distribuição. Uma das histórias, Vampiro Eletrônico, ganhou o Prêmio Nova como melhor história profissional do ano de 1994. Com roteiro dele mesmo, e desenhos de Shimamoto, conta a história do retorno do verdadeiro Conde Drácula, via Internet (era muita criatividade!).

 A revista Spektro é lembrada até hoje pelos fãs de HQ's da época e seus exemplares dificilmente são encontrados, mesmo em sebos especializados. Chegou a vender, em sua época áurea, mais de 40 mil exemplares por edição! Em todas as revistas eram enviados questionários, com perguntas sobre o que o leitor gostou ou não. Entre 500 e mil cartas-resposta chegavam pelos correios para cada número e determinavam a linha editorial para o número seguinte. As histórias de Mano eram as mais elogiadas.
 
 E pronto! Acabo por aqui mais um Especial, trazendo mais uma das minhas pesquisas mirabolantes acerca deste vasto mundo da cultura pop, mesmo algumas delas sendo das mais obscuras (buhh!), o importante é descobrir e informar. Creio que sempre vale a pena ficar por dentro das coisas, principalmente de um marco do mercado nacional de HQ's como esta revista. Ainda acharei algum exemplar para ler, porque fiquei morrendo de vontade!

Fontes: agradeço demais aos informes contidos no site da Universo HQ, afinal os caras me pouparam muito esforço de pesquisa dentre sites não tão confiáveis como o Wikipédia (desculpe, Wiki, mas é!), e ao site Mania de Colecionador, que apresenta uma biografia considerável acerca do pernambucano Watson Portela.

7 comentários:

  1. Okay, em primeiro lugar "FIRST!!!!!1!11!!!!"
    OMG, eu nem sabia que o nosso pais teve uma revista de terror com tanto sucesso!!! Fiquei morrendo de vontade ler! E se achar, scan pra mim, please? ou manda pelo correio, voce que sabe. Mas conhecendo voce, acho que voce nao vai deixar algo tao raro passear pelo correio, ficar com uma louca em SP e passear pelo correio de novo :P
    Gostei muito desse post!!! MOAR!!!
    Pena que não sou muito boa em historias de terror, se nao eu fazia alguma em quadrinhos. But alas, eu só presto pra desenhar e nem isso direito...
    Faz tempo que quero ler Lovecraft, mas sem verba ta meio dificil. Eu sei que eu poderia ir a biblioteca ou baixar, mas nao é a mesma coisa do que ter um livro que é só seu, sabe? E definitivamente é algo que eu quero na minha biblioteca, portanto vou esperar pra poder comprar!
    Agora fiquei com vontade de historias de terror, mas da ultima vez que eu li algumas eu nao dormi durante uma semana (serio...).
    To read (terrifying stories), or not to read (terrifying stories)?
    That is the question!
    Alias, me lembra de te passar uma muito legal sobre um casa com nove quartos depois, okay? Eu gostei muito dessa!!!

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    1. HAHAHAHAHAAHAHAH, mandar pelo Correio foi ótimo, Roxy! Valeu pelo comentário, e simm, você foi a primeira! hahahahahahahahaha, louca. Essa revista também me surpreendeu bastante, vou catar mesmo para ler, e depois te passo uns links dos livros de Lovecraft, certo? Indico muito, e não vale a pena esperar para poder ter um livro do Love mesmo, claro que seria ÓTIMO, mas são meio difíceis de achar e quando tem é caro, baixe as histórias antes e aproveite hahahahahahahahahaha!

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  2. Mais um texto muito bom, Dan! Eu adoro terror (e você sabe disso), mas essa HQ eu não conhecia,elas tem uma carinhas bem exploitation. Aproveitando o tema terror nacional você bem poderia falar sobre os filmes.

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    1. Valeuuuu, Mah! Estou querendo me aprofundar mais no terror nacional, de outras mídias inclusive, por isso quando achei essa revista em quadrinhos interessantíssima, tive que dar um desataque, hahahahahahaha. Pensei logo num post, mas enfim, os filmes são uma boa mesmo. Anotado! E pode aguardar que estou para lançar uma Enquete no blog. ;)

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  3. AAAAÊÊÊÊÊ!! Temos pornochanchada em quadrinhos tb é? \o/ Que coisa não?! hahahah Ai ai, Brasil Brasil...um país caliente!! =P Voltando ao que interessa!! Achei muito interessante a forma como vc abordou o assunto, mas sou suspeita pra falar pq sou a fã numero 2!! u_u E caso vc ache alguma edição me avisa q vou na tua casa com luvas e pinças pra poder ler!! xD ( só pra n estragar, pq sei q tu é chato pra cacete!!). Aumentando o coro de Mah, fala aí do terror nacional, vai ser pornochanchada tb, mas o que vale é o que importa!! ;P

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    1. HAHAHAHAHAHAHAHAHAH, valeu pelo comentário, mesmo você dizendo que é a fã nº 2 e comentando depois de séculos! =P Haja pornochanchada, hein! HAHAHAHAHAHAHAHAH, louca. Mas como falei, farei uma enquete sobre o tema que terá efeito nos próximos posts. Fiquem de olho! ;D

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  4. Eu ainda tenho a #1, que ainda era chamada de "As Aventuras Sobrenaturais do Dr. Spektro". Depois ficou só "Spektro". As demais vendi em tempos de vacas magras...

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