segunda-feira, 30 de setembro de 2013

Invocação do Mal (The Conjuring; 2013) - um terror que tem de tudo!


 Antes de qualquer coisa, quero dizer logo que não estou perseguindo a Vera Farmiga - de Bates Motel (hahahahahahaha!). Gosto muito dela, mas foi uma imensa coincidência ela estar em outro trabalho no qual adorei todo o contexto (não só a sua atuação). Estou a falar de 'Invocação do Mal', o mais novo filme de terror do já consagrado James Wan (Jogos Mortais, Sobrenatural, etc). Resolvi analisar o filme porque eu simplesmente acho que este foi o trabalho do Wan que finalmente conseguiu fazer com que o diretor deixasse de "brincar" com sustos fáceis e finalmente encarasse um universo de cabeça, deixando a sua marca definitiva de "Eu sei fazer algo que seja bom do começo ao fim em se tratando de terror". Vamos lá, pois os fantasmas estão inquietos.

 

 Vejamos, antes de adentrar no filme em si, vou falar um pouco sobre o famoso casal de investigadores paranormais da vida real e que dá destaque e maior credibilidade (se é que posso dizer isso) à Invocação do Mal. São eles Ed e Lorraine Warren, que, durante 50 anos, estudaram mais de 10.000 casos sobrenaturais, entre eles Amityville, o da boneca Annabelle e o de Harrisville.

 O site assombrado.com.br tem um texto muito legal que fala sobre a vida do casal, e aqui deixo alguns trechos de lá: "O demonologista Ed Warren e a médium clarividente Lorraine Warren foram, durante 50 anos, o casal mais famoso do mundo quando o assunto era investigação paranormal. Sua história começa em 1952, quando os dois fundaram o New England Society for Psychic Researchgations (N.E.S.P.R.) e abriram um museu do ocultismo em Monroe - Connecticut. Eles alegaram que já pesquisaram mais de 10.000 casos e escreveram diversos livros sobre demonologia."

 "O mais famoso caso que eles investigaram foi o de Amityville. O casal George e Kathy Lutz alegaram que sua casa - localizada em Nova York - estava sendo assombrada por uma violenta entidade demoníaca, que não deixou eles morarem na casa por mais de 28 dias! Então um repórter que sabia do caso chamou os Warrens para investigar. Até hoje o caso é muito debatido, pois várias pessoas dizem que o caso é uma mentira, mas Lorraine continua atualmente jurando que tudo que aconteceu foi verdade e que o local era realmente assombrado. Outro caso famoso é o da boneca Annabelle, registrado no livro “The Demonologist” (O Demonologista)."

 "Com a morte de Ed Warren em 2006, o braço direito de Lorraine passou a ser Tony Spera. Ele é seu assistente psíquico e cuida da NESPR e do Museu do Oculto. Lorraine Warren está na ativa atualmente e quem tem TV por assinatura sempre a vê em diversos programas que existem sobre investigação paranormal, mas o preferido dela é o "Paranormal State", exibido no Biography Channel (domingos às 18:30 hs). Sempre que Ryan, o chefe da equipe, não consegue solucionar um caso, ele chama Lorraine Warren - e/ou o médium Chip Coffee -  para ajudar a esclarecer o caso que investigam."

 É isso. Um pouco sobre o casal, alguns dos seus principais casos e um dos atuais programas em que a Lorraine Warren participa firme e forte (Paranormal State) - o qual eu odeio! Sério, o programa é muito chato e, ao meu ver, não tem credibilidade alguma. É tudo tão fajuto que dá agonia. Mas tudo bem, todos precisam ganhar o seu pão de cada dia e vender seu peixinho. Não estou criticando a Lorraine, só falei mesmo desse programa em si. Enfim, agora vamos ao filme.


 Invocação do Mal, para mim, foi uma real surpresa. Eu pouco estava dando bola para o filme, pois eu sempre achei os trabalhos do Wan meio que decepcionantes. Claro, eu gostava (o primeiro Jogos Mortais é ótimo - único que presta na verdade - e Sobrenatural é muito bom, se não fosse o final tosco), mas sempre que terminava o filme ficava aquela coisa "Poxa, se não fosse esse final". Wan sabe matar o clímax de uma narrativa. É triste, mas é verdade. Sobrenatural, como já citei, é um exemplo claro. Outro exemplo é o Gritos Mortais, que corre corre e corre e derrapa na praia pra ser enterrado na areia. Jogos Mortais, por incrível que pareça (e seu maior sucesso, não dá pra negar), foi um marco e acertou em cheio com tudo, mas também foi aquele tiro no escuro que deu certo, e Wan parecia ter morrido ali e virado um diretor de apenas um grande sucesso.

 Outra curiosidade a respeito de Wan é que, com certeza, ele tem fetiche por bonecos fantoche de madeira com maquiagens bizarras. Só pode! Jogos Mortais tem o seu bonequinho maquiavélico que anda de bicicletinha e julga as "almas corruptas". Gritos Mortais tem seu bonequinho comediante que parece ser o capeta. Sobrenatural não tem um boneco, mas tudo no "mundo dos sonhos" lembra algo do universo fantoche. E, por último, Invocação do Mal traz a Annabelle - uma boneca medonha que serve/serviu de canal para que um demônio adentrasse na vida de duas jovens (num dos casos investigados pelo casal no filme que tem um ar documental). É válido ressaltar que a versão da Annabelle no filme é muito (MUITO!) mais horripilante do que a verdadeira que fora investigada pelo casal (a qual era uma boneca de pano, nem era fantoche, tá vendo?!). É só uma curiosidade, mas é engraçado como o diretor utiliza os bonecos em seus trabalhos.

Olha a verdadeira Annabelle aí. Quem viu o filme sabe que essa boneca não tem NADA a ver com a demoníaca presente no longa.
Annabelle do filme.

 O filme em si não trata da Annabelle como um foco, caso vocês tenham pensado isso. James Wan utilizou uma atmosfera bem documental no seu filme, e, por isso, acabou colocando (através de muitas liberdades criativas) elementos de outros casos investigados pelo casal Warren para dar um "recheio" a mais ao roteiro e, com isso, fazer com que toda a atmosfera presente ficasse ainda mais perturbadora, e posso dizer que a sua versão da Annabelle ajuda muito nisso. Mas vamos ao centro da narrativa: a família feliz que, ao comprar uma enorme casa no campo, depara-se com entidades malignas e  acabam passando por muito sofrimento. MUITO sofrimento.

 Tudo começa com os Warren (interpretados por Vera Farmiga e Patrick Wilson) investigando um caso (exatamente o da Annabelle). Daí é mostrado como o casal de investigadores paranormais lida com o seu "trabalho", as suas técnicas e sobre o seu hobby (eu vou chamar assim, pois me pareceu mesmo ser algo do tipo) de sempre - ao finalizar um caso - guardar uma lembrancinha do ocorrido, podendo ser este até o tal objeto possuído (Annabelle aqui novamente!). É bem isso. Os Warren sempre dão palestras sobre seus casos, mostrando relatórios e muitos vídeos, querendo deixar clara a sua credibilidade e prova de que espíritos e outras entidades existem (ou seja, que o universo sobrenatural é real), e nesse meio tempo sempre são chamados para investigar algum caso, daí, se interessar, eles vão pessoalmente desvendar tudo (pelo menos tentar).

 Em paralelo aos Warren, nos é mostrada uma família bem feliz composta por um casal e suas 5 filhas (é quase um banquete para uma casa com ares macabros e suas entidades ensandecidas, só pode). O casal de pais - Carolyn Perron e Roger Perron - mega cuidadosos (interpretados respectivamente por Lili Taylor e Ron Livingston) resolveram fazer essa mudança de ares, claro, para uma localidade mais tranquila, com uma casa maior, ou seja, uma procura por menos problemas. Mas infelizmente não é isso que acontece. Do nada coisas estranhas começam a acontecer na casa: puxadas de perna, hematomas estranhos, gritos, aparições, batidas de porta, quebradeiras, etc. Sim, é muita coisa. E como sempre tem aquela de "Não tem nada acontecendo, é tudo nossa bizarra imaginação, tá? Deixa quieto". Depois de muito sofrimento (ou melhor, depois que as suas filhas viram o foco dos ataques), o casal resolve agir e decide procurar os Warren.


 A partir daqui deixo a curiosidade acerca do roteiro para vocês irem ver o filme, que é realmente muito bom. Tudo vai girar agora na casa e de como os Warren irão lidar com as entidades e todo o processo, então nem tenho mais o que falar. Vou agora para as partes técnicas e comentários sobre interpretações, além de algo que observei no filme que, creio eu, quem assistiu percebeu também.

 A direção de Wan sempre foi focada nos sustos fáceis, e, logicamente, ele não deixou isso de lado neste trabalho, mas eu diria que aqui a coisa foi bem mais equilibrada. Fato. Não é como Gritos Mortais, ou até Sobrenatural, que sempre faz algum desprevenido pular da cadeira com uma sombra atrás da porta que, do nada, sai de lá e voa pra câmera. Que bom ver que o Wan evoluiu isso, pois já estava ficando chato ver sempre aquela ceninha bem escura e saber que algo ía pular dali. Era tudo tão previsível que nem tinha como se assustar. Em Invocação do Mal, como falei, isso ainda existe, mas teremos boas surpresas de andamento de câmera, e a Fotografia bem feita ajuda muito no realismo de certas passagens. O ar documental ajuda demais o longa, é incrível! Nos sentimos dentro de um documentário acerca dos Warren e do nada somos atirados neste "caso nunca revelado pelos Warren e mais obscuro" e vamos ver o seu trabalho na real. Tudo muito bem estilizado e interligado.

 Sobre as interpretações, digo logo que os destaques são as mulheres. O filme é composto, em sua maioria, pela presença feminina, não dá pra negar isso, mas não é somente por causa disto que eu destaco o fato. É aí que chego no "algo" que observei no filme e quem prestar atenção também irá perceber: o foco no papel materno, ou seja, Lorraine e Carolyn são mães no longa, e esta representação fica muito extrema em várias e várias cenas do filme. Lorraine tem uma filha e tenta criá-la da melhor forma possível mesmo sabendo das dificuldades de estar presente, já que ela e o marido sempre estão viajando atrás dos seus casos paranormais. Mas mesmo com essa "distância", o casal sempre tenta estar o mais presente possível, e Lorraine tem um apego extremamente forte pela filha, isso é bem mostrado.

 Já Carolyn, essa é o cúmulo do exagero da mãe coruja. Mesmo com 5 filhas, todas com idades bem variadas, tenta se mostrar presente e ao mesmo tempo única para cada uma delas. A atriz Lili Laylor é o real destaque aqui, e diria que do filme todo. Sem tirar nem por. Eu sempre odiei a atriz pelos seus papéis sem graça ou manipuladores (como na minha série favorita Six Feet Under - HBO, onde a vi pela primeira vez e dali já tomei raiva, hahahahahaha), mas aqui ela se sobressai de um jeito assustador. Ela vai passar por tudo, mas sempre lá com aquele afeto estrondoso pelas filhas e seu desejo de que tudo passe acaba se tornando uma jornada de amor e coragem. Mas como falei, o papel da mãe e as adversidades enfrentadas por ambas é o paralelo que se mostrou ideal para o roteiro deste horror todo. E funcionou perfeitamente. Ah, claro, só para não deixar alguma dúvida, eu não estou dizendo que o papéis masculinos ficaram inexistentes, não. Mas, com toda certeza, são apenas enfeites perto das verdadeiras protagonistas (que nem são as filhas, são realmente as mães).


 Ah, eu já ía esquecendo de falar sobre as diversas homenagens que o Wan resolveu colocar no filme. Isso foi bem interessante e só mostra como ele está crescendo com o seu trabalho. Para aqueles mais atentos, e que conhecem certos clássicos do cinema de terror, irão perceber muitas coisas em falas, cenários e objetos. Não vou sair revelando todos, deixo isto para vocês acharem, mas cito a cena onde a filha dos Warren é perseguida por uma entidade e nos é mostrado o cenário (mais detalhado) da residência do casal paranormal. O papel de parede do corredor principal, a escadaria e as portas acima desta são exatamente iguais aos presentes no hotel do filme O Iluminado (The Shining; Stanley Kunbrick). Quando você se depara pensa logo "Eu já vi isso! Peraí, ah!". E não será somente nesta cena, há muitas outras de outros clássicos. Se preparem. Dica: Amityville. ;)

 Eu creio que já falei sobre tudo que tinha para ser falado a respeito do longa e suas peculiaridades. Expor algo mais seria mais exagero que a Lili Taylor possuída (hahahahaha), e eu acabaria soltando spoilers nefastos. Então corram para conferir Invocação do Mal e cuidado com os bonequinhos fantoche, pois eles podem ser muito malvados (oh, Annabelle e seus olhinhos).

Abração e até o próximo post revolucionário!

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