sexta-feira, 6 de setembro de 2013

Resolvi falar de séries - O Negócio (HBO, 2013)


 E, por que não, uma série brasileira? Temos aqui uma produção adulta (não há nada explícito aqui, porém o tema e algumas cenas fazem com que sua categoria seja esta) da HBO Latin America que está dando o que falar. Com uma proposta para lá de ousada e que nunca havia sido explorada desta forma, 'O Negócio' conseguiu me conquistar logo no primeiro episódio. Atualmente está indo para o seu quarto episódio e, para a minha alegria, já fora renovada para uma segunda temporada. Isso faz com que a mesma ocupe um lugar privilegiado nas séries brasileiras já produzidas pela HBO que conseguiram garantir uma segunda temporada. Entre elas estão: Mandrake, Filhos do Carnaval, Alice e Destino: São Paulo. Assisti todas estas, mas admito que somente duas daí realmente me fizeram acompanhar até o final, e somente uma me agradou meeesmo (e muito), sendo esta 'Alice'. Eu estava realmente com saudades de uma produção brasileira do calibre HBO, e vamos lá aos negócios, pois papo aqui não falta.



 Primeiro vamos falar sobre o tema desta série. Criada por Luca Paiva Mello e Rodrigo Castilho, a série tem treze episódios produzidos para a sua primeira temporada. A história acompanha a vida de três prostitutas de luxo (se bem que, uma delas, é um "negócio" à parte, só vendo para entender!), sendo elas interpretadas por Rafaela Mandelli (a Karin), Juliana Schalch (Luna) e Michelle Batista (Magali). Cada qual com sua história pra contar, esse trio é inacreditavelmente carismático. Eu duvidava um pouco desta série, admito, desde que fora anunciada pela HBO no início deste ano, principalmente pelo elenco. Convenhamos que, Rafaela Mandelli nunca foi uma atriz simpática e muito menos de grandes atuações. Linda, sim, ela é, mas atuar e ter carisma nunca fora o seu forte. Mas eu, com meu preconceito tosco, acabei me enganando feio, pois a mulher provavelmente só estava sendo "encarcerada" pelo pavilhão da Globo, e por isso nunca mostrou o seu verdadeiro potencial. Ainda bem que a HBO reconheceu o seu talento e deu-a uma chance e tanto. Ela está muito bem como a protagonista Karin, uma prostituta de luxo que já está no ramo faz tempo e conhece muito bem os altos e baixos do processo. Afinal, como ela mesma diz, não é fácil viver dependendo de cafetão (ou booker, como também é chamado). Ela já passou por vários, e atualmente está nas mãos de Ariel (Guilherme Weber), que tem cara de bondoso, mas Karin logo vai descobrir que ele pode ser o seu pior pesadelo. Mas é exatamente por causa dele que ela decide tomar um rumo "um pouco" diferente em sua vida.


 Sua melhor amiga, Luna (Juliana Schalch), também é uma prostituta, mas não suporta cafetões e prefere arriscar os programas em boates (ou melhor, num Clube em específico). Preciso falar uma coisa sobre a Juliana Schalch - que achado! Linda, carismática, e, na minha opinião, a melhor das três. E eu não consegui ligá-la a nenhum dos seus trabalhos anteriores, que foram tão sem graça (novamente, culpa da Globo!). Ela como a Luna só vive fazendo cara de sonsa (comédia pura) e sonha em arrumar um ricaço que a sustente, por isso passa as manhãs e tardes tentando, a todo custo, seduzir milionários, seja na faculdade de Administração que frequenta ou num Curso para grandes herdeiros do País onde, claro, ela dá um jeitinho de se matricular. O engraçado é que a sua família de classe média alta nem sonha que ela é uma prostituta, e para sempre cobrir seus rastros, ela monta uma enorme fachada: diz namorar com um amigo e geralmente o leva para jantares familiares na casa dos pais. O pai, a mãe, e o irmão, sequer desconfiam (apesar do irmão "aborrecente" parecer desconfiar de certas coisas). Ela só vive se metendo em confusão e a Karin sempre está pronta para dar-lhe conselhos.

 Por último temos a Magali (Michelle Batista), interpretada por outra atriz que eu não via nada demais mesmo (creio que, dentre as três, ela é a que menos se destaca, ou melhor, se destacaVA!). Ela tem uma beleza estranha (minha opinião, haha), e só fazia vilãzinhas toscas, mas agora, como ela mesma diz numa das hilárias cenas da série "Eu não estou fazendo nada, mas eu faço tudo. E você?". É bem por aí mesmo. A jovem é meio louca. Vinda do interior, ingênua e imatura, ela aprende por si só como lidar com as dificuldades financeiras através das situações mais bizarras possíveis. Com isso consegue se manter em São Paulo (sim, a série se passa por lá) frequentando os melhores restaurantes e hotéis da Região. Como ela vai encontrar a Karin e a Luna? Só vendo pra entender, porque se eu contar vai perder a graça, afinal ela entra de vez na série somente no terceiro episódio (onde ficamos sabendo do seu passado e o que ela realmente faz pra ganhar a vida - por isso que falo que ela não é bem uma prostituta, pelo menos não ainda). Mas garanto que o papel dela é ótimo.


 Tudo bem, o nosso querido trio já fora apresentado, agora vamos para o que interessa: qual o foco real de 'O Negócio'? Bem, eu diria que é tratar a prostituição de uma forma totalmente nova, ou melhor, com novos ares (por assim dizer). Afinal, para se falar de prostituição não é necessário fazer algo que somente recorra ao pornográfico e sem qualquer delicadeza. Esta série está aí para mostrar que, mesmo se tratando de algo um pouco utópico, esse "algo" pode sim ser verdadeiro. Lida com a profissão com o maior respeito possível e não mostra de forma indelicada nenhum lado da moeda: as prostitutas de luxo e as que procuram clientes nos mais variados locais. Agora, claro, lida também com o fato do Brasil ser um terreno um pouco difícil para o que o trio irá propor à sociedade, mas precisa-se ter uma história mesmo, então é seguir adiante sempre enfrentando as dificuldades.

 Mas assim, será que seria mesmo uma utopia pensar da forma que o trio (mais especificamente a Karin) pensa? Eu diria que não, afinal como a série vem mostrando muito bem, com um bom planejamento tudo pode ser possível. E é aí que chego no ponto crucial - o que é exatamente essa jogada de mestre que a série vem mostrando na perspectiva destas três inteligentes mulheres? Como tornar a prostituição algo que, através de um bom marketing, possa transformar os investidores em pessoas com um bom dinheiro. Uma proposta que parece simples, mas se mostra muito mais difícil do que o trio poderia imaginar.

 A Karin, decidida a mudar o rumo da sua vida, dá um belo chute no Ariel e diz que vai, de qualquer forma, conseguir se vender sem precisar da ajuda de qualquer cafetão. E se vender bem, não é simplesmente sair pelas ruas. Ela quer muito mais, ela quer abrir um negócio. E com essa ideia na cabeça começa a sua jornada através de muitas aventuras ao lado da Luna, a quem ela logo pede para tornar-se sua sócia nesta arriscada jogada, e a Magali, que ainda não entrou definitivamente neste negócio (pelo menos não até o quarto episódio, provavelmente). E o interessante neste caminho que vai sendo percorrido, principalmente pela Karin e sua determinação, é como a série vai mostrando (até tecnicamente) como um bom marketing pode vender praticamente qualquer coisa na face da Terra. São praticamente aulas de como se auto promover em certos momentos, e a Karin sempre lá, atenta a tudo, aprendendo tudo que pode para gerenciar o seu negócio da melhor forma possível. E claro, mesmo começando "por baixo", a coisa promete alavancar de vez, pois decididas e inteligentes as três investidoras são de sobra.


 Uma coisa que não posso esquecer de falar também é de como a série trata outros assuntos geralmente em evidência, como a violência, o machismo, e outras coisas que estão sempre pairando ao lado de uma profissional do sexo. Como eu havia dito, aqui não tem nada que recorra à pornografia (há nudez, há sexo, mas de uma forma bem diferente, mesmo) e muito menos às indelicadezas que o ramo da prostituição possa lidar. Lembro que vi um making-off da série antes da estreia, e a Luca Paiva Mello disse que a série conseguia ser delicada e tratar do tema da forma mais respeitosa possível, e eu não acreditei nisso, afinal eu estava acostumado a ver filmes realmente cruéis e pesados acerca da prostituição no Brasil, então realmente, a série foi uma surpresa para mim.

 Mas enfim, isso faz da série algo surreal? Como disse antes também, não é bem assim. Trata-se de uma ficção, e aborda uma arriscada jogada neste ramo, portanto é, até o momento, uma utopia. Mas eu diria que apenas na cabeça de quem quer enxergar assim, ou melhor, somente se o foco estiver no rumo da série e ficar por isso mesmo. Eu consegui enxergar muito mais, permeando entre críticas sociais e muito preconceito discutido (que é encontrado nos lugares mais impensáveis) nestes poucos episódios apresentados. Portanto, afirmo, eu vejo mais realidade aqui do que num filme ou série que apenas trate da prostituição em si e de como ela é algo difícil, ou como as mulheres (ou homens) sofrem, e só fica nisso. Tudo bem que para mudar certas coisas é necessário mostrar o real (REAL! - como alguns documentários o fazem muito bem), mas também precisamos discutir isso, debater e tentar ver mudanças. Não adianta querer chocar sem nos dar um foco de resolução. Há muito mais a ser explorado, a ser comentado e criticado, analisar outros bastidores. E, por isso, 'O Negócio' é realmente, um negócio!


 Não vou falar mais sobre a série, pois o básico já está aí e, como falei, ainda está no terceiro episódio (a série passa sempre aos Domingos, às 21h na HBO). Após o encerramento da série, eu venho aqui discutir bem mais, com muito mais conteúdo a ser abordado, uma "resolução" da primeira temporada e várias outras discussões. Eu posso até estar enganado, e a série não ser tudo isso que pensei, mas eu falo do agora e de como ela está seguindo, ok? Então, mais adiante, podem esperar mais de 'O Negócio' aqui no Blog. Abraços e até o próximo post!

6 comentários:

  1. O negócio é uma das séries que eu gostei mais e em geral eu acho que as propostas da hbo são muito atraentes e variadas.

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  2. Esta série parece interessante, ver como três mulheres fazem O Negócio de sua vida com o seu conhecimento em marketing, eu acho que é algo novo que não é visto, eu acho que uma segunda temporada é bem merecida, porque a história é por si só muito interessante.

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  3. A série O Negocio tem uma boa fotografia e boa música. Muito belas atrizes e atores totalmente engajados com as pessoas.

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  4. O Negócio conseguiu me conquistar, não somente porque tem todos os "padrões HBO" de se fazer uma série, mas porque ela é bastante atual e inovadora no que diz respeito à temática proposta, ainda mais no cenário brasileiro, onde há MUITO preconceito não apenas sobre este assunto em si. A série é muito boa, e as interpretações são bem equilibradas. Não é uma "Alice" - série brasileira da HBO que passou há alguns anos atrás e a qual está na minha top list até hoje -, mas vale muito a pena. Ainda quero muito ver a segunda temporada de O Negócio (a qual está sendo transmitida no momento), porém infelizmente não estou podendo assistir agora. :)

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  5. Estou gostando da série, um amigo comentou sobre e fiquei empolgado para ver, mas após terminar a primeira temporada, estou bastante cansado do uso excessivo de clichês e de só se ver o lado "cor de rosa" da profissão. Na minha opinião a trilha sonora é fraca, não encaixa muito bem, ainda mais quando se usa várias vezes a mesma música mas em cenas muito distintas.

    Outra ponto que achei fraco, é o namorado advogado da Karin, com aquela voz forçada de sedutor o tempo todo, numa boa, não convence.

    Como ponto positivo, destaco as atrizes que estão realmente fazendo um bom papel.

    Abs.

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