quarta-feira, 8 de janeiro de 2014

A espetacular jornada de Downton Abbey - da primeira à quarta temporada, como a série britânica conseguiu chegar onde chegou.



 Primeira postagem de 2014, e tinha que ser especial, claro! Nada melhor para isso do que falar de uma das minhas séries favoritas do momento e da qual eu já deveria ter falado há algum - muito! - tempo: Downton Abbey. A quarta temporada acabou há um tempinho, o episódio natalino já passou (e foi muito bom!) e eu aproveito este momento para falar desta nova temporada e também da série em si. Esta fantástica série de época britânica já é sucesso mundial deste sua primeira temporada, e não é por menos. Elenco afiado, Roteiro perfeito pelo conceituado e ganhador do Oscar - Julian Fellowers (de Assassinato em Gosford Park - que amo!), e uma Direção impecável. Com muito estilo e também paisagens de cair o queixo, Downton acabou tornando-se uma das minhas séries favoritas de todos os tempos. E lá vamos nós falar dela!


 Primeiramente deixo claro que eu sou bem suspeito para falar de Downton Abbey, pois desde a primeira vez que vi o trailer de estreia da série eu caí de amores. É incrível como até nos trailers a série é épica (hahahahahaha) e te chama a atenção sem precisar fazer esforço. E só para matar a curiosidade, este aqui foi o trailer - o de estreia da série - que me fez saber que eu iria assisti-la com toda a certeza.


 Simples, rápido, sem muitas explicações e com uma trilha que conseguiu encaixar-se perfeitamente. Me senti dragado a partir do primeiro momento. E o "Welcome to Downton" foi a minha porta de entrada neste mundo de altos e baixos entre patrões e empregados numa época onde a hierarquia social era praticamente tudo o que importava.

 Downton Abbey é uma série britânica nascida em 2010 e trazida à tona pelo impecável canal inglês ITV. Não é querendo puxar sardinha para o canal não, mas ele é foda. Todas as séries feitas pelo canal, pelo menos todas as quais assisti, foram ótimas (algumas perfeitas). Tudo bem que em sua maioria eram minisséries, principalmente as baseadas nas obras de Jane Austen (o canal parecia existir antes somente para fazer séries baseadas nos livros da Jane! hahahahaha, e eu sempre adorei isso, fato). Como exemplo temos as adaptações de Emma, Mansfield Park e Northanger Abbey. Todas feitas impecavelmente pelo canal. Ainda teve uma minissérie que falava da própria Jane Austen, e outra de comédia chamada Lost in Austen (que muito recomendo, é ótima!). Fora estas, temos as adaptações dos livros de Agatha Christie, como a famosa Poirot (série que acabou recentemente e durou 24 anos!), a qual retratou todos os livros onde o famoso personagem da Agatha Christe, chamado Hercule Poirot, aparece resolvendo algum misterioso caso de roubo ou assassinato. Ou seja, eu sempre acabo mergulhado em alguma produção do canal, não tem fuga para mim!

 Creio que, para falar da série, antes tenho que tecer elogios também ao criador da mesma - Julian Fellowers - que já tinha se mostrado muito competente em relação a Roteiros de época e com uma fidelidade imensa ao contexto apresentado. É tudo retratado com tanto realismo, que parece fluir. Nós realmente interagimos com aquele tempo ao assistirmos uma produção sua. Vou falar aqui de Gosford Park (conhecido no Brasil como Assassinato em Gosford Park - de 2001), trabalho com o qual ele levou o Oscar de Melhor Roteiro Original. Gosford vem retratar exatamente o mesmo contexto apresentado em Downton Abbey, ou seja, Jullian já entrou pisando num terreno no qual ele já conhecia perfeitamente, e isso foi ótimo. A única e "grande" diferença entre Gosford Park e Downton Abbey (além de um ser um filme e a outra uma série), é que Gosford gira em torno de um assassinato que ocorre numa glamourosa festa numa mansão (esta chamada Gosford Park). Todos são suspeitos, patrões e empregados, e um cômico detetive é chamado para averiguar a tudo e a todos. É muito Agatha Christie aqui, e eu adorei isso. Jullian parece dançar entre um livro policial com Hercule Poirot e num drama complexo entre milionários da mais alta classe social em conflito também com seus empregados. É um filme incrível, e mereceu todo o impacto que causou na época e todos os prêmios que conquistou.


 Gosford Park, além de uma história interessantíssima, tem um elenco fenomenal - e muitos atores e atrizes que ainda estavam em ascensão no estrelato de Hollywood - e o engraçado é que neste filme algumas personalidades parece que morreram e ficaram por lá mesmo, perdidas em seus papéis eternamente. Não entendeu bem isso? É, não ficou muito claro, mas explicando. Um ótimo exemplo é o Clive Owen, que aqui está bem mais novo. Interpretando o valete de um milionário cheio da pompa, ele é uma das estrelas do filme, mesmo. Mas este Clive eu não vi mais. E olhe que ele já fez muitos e muitos outros filmes depois deste, fato. Tem vários outros exemplos aqui, mas não adianta destacar. No final, o que eu quero dizer é que o filme é brilhante e consegue tirar leite de muita pedra. Mas claro que há estrelas que nunca foram ofuscadas, como a magnífica Maggie Smith (que está lá em Downton também! Yeah!), que faz uma ricaça cheia de conservadorismo mas que, na verdade, sabe dosar as situações. É bem interessante como esta personagem é tão parecida com a Lady Violet, que ela interpreta em Downton. Jullian Fellowers com certeza já escreveu o seu papel pensando nisso. Outra atriz que se sobressai aqui no filme é Helen Mirror. Outra veterana que nunca erra na medida. Da classe dos empregados, ela é como uma governanta que administra as empregadas e cozinheiras da mansão. Há toda uma hierarquia no contexto. Os patrões vivem em cima, na mansão em si, e os empregados embaixo, em outra estrutura. Eu diria que é como um espelho com suas duas faces. Há vida de ambos os lados, mas um está do avesso, porém com as mesmas regras e escadas sociais, conspirações e intrigas. Esse drama é a real cereja do bolo, tanto no filme quanto na série Downton Abbey que funciona exatamente da mesma forma. Agora sim eu posso adentrar na série como eu realmente queria. Vamos lá!

 Para chegar onde quero chegar, ou seja, na quarta e - até agora - última temporada, eu terei que tecer os principais fatos da trama até o momento. Tentarei, mesmo, não sair atirando spoilers para todos os lados, mas posso deslizar um pouquinho nisso, mas juro que tentarei não ser tão direto, ok? Bem, a história começou um pouco antes da Primeira Guerra Mundial (isso foi toda a primeira temporada) e gira em torno da família Crawley, composta por aristocratas ingleses que detém o controle sobre Downton Abbey, chefiada pelo Conde Robert Crawley (Hugh Bonneville) que, pela ausência de herdeiros masculinos e morte dos seus dois parentes de sangue mais próximos (logo no primeiro episódio ficamos a saber que eles morreram no desastroso naufrágio do Titanic), acaba descobrindo que sua morada será herdada por um primo distante, Matthew (Dan Stevens), advogado de classe média, o que gera uma reação não muito boa para sua primogênita Mary (Michelle Dockery).


 A partir daí teremos uma série de conflitos diante de diferentes classes sociais, um possível par romântico central, e uma boa dose de drama para apimentar o contexto. Iremos partir numa jornada pela vida dos Crawley e sua morada Downton Abbey (a real protagonista da série). Tudo gira em torno de Downton, seja a história, seja a pequena cidade do interior da Inglaterra. Downton parece respirar e, através dessa fotossíntese, as personalidades ali presentes conseguem viver e seguir com suas vidas. Cada um dos componentes da mansão ganha sua importância em alguma trama e se mostram seres multifacetados. Um acerto do Roteiro, que não tenta colocar ninguém como bússola moral da narrativa, pois até mesmo os personagens mais carismáticos e honestos têm claramente defeitos, ou erros que cometeram no passado, e até mesmo os personagens que não gostamos exibem certa complexidade. O que é completado pelo elenco que contém alguns dos melhores atores da televisão inglesa, a ponto que eu até teria que fazer outro texto se quisesse elogiar um por um.

 A primeira temporada, seguindo um ritmo de apresentação, e com o intuito de nos deixar a par de quem é quem na trama e suas "metas", acaba sendo muito rápida, ainda mais pelo fato de somente possuir 6 episódios. O ITV não imaginava, inicialmente, que Downton Abbey geraria tanta comoção na televisão mundial. Não imaginava, nem de longe, que a série se transformaria num fenômeno de audiência. Mas esta temporada, mesmo sendo curtíssima, é perfeita. Diria que na medida. Nos afeta no sentido de querer saber, claramente, o que acontecerá com cada personagem. E os personagens da trama, como já mencionei, são os outros destaques da série. Tudo bem que, inicialmente, a trama vai girar em torno de "Quem vai ficar com a Lady Mary" (coloquei 'Lady' na frente para não gerar gracinhas com um certo filme, haha) e "Será que o Mathew é um bom administrador para a herança Downton?", mas a série não sobrevive apenas dos ricaços e seus problemas financeiros, a pérola realmente está na ala dos empregados, mesmo!  Eu arrisco dizer que a série é da ala "pobre", com toda a certeza. O "maquinário" de Downton Abbey (eu, um assistente social falando assim! Marx que me perdoe, mas é! hahahahahahahahaha) é, tanto no Roteiro em sim quanto nas interpretações, a ala que vive na estrutura de baixo da mansão. Seja na atuação de Jim Carter como Carson, o "mordomo" chefe da mansão, em conjunto com Phyllis Logan como a Mrs. Hughes, a governanta que administra as empregadas e cozinheiras. Mas eu bato palmas, realmente, para a dupla maléfica dos serventes: Thomas Barrow (seria um mordomo de baixo nível - são muitas definições para a hierarquia de empregados, argh!), interpretado pelo sarcástico Rob James-Collier, e a Sarah O'brien (seria a criada principal da casa, que atende diretamente a Condessa), interpretada pela Siobhan Finneran. Eles são o ápice das conspirações que atingirão não só diretamente a ala dos empregados, mas ainda mais os seus patrões. Muito bom! São, de longe, os meus favoritos - da primeira temporada!


 Ainda na primeira temporada, e ainda falando dos "vilões", teremos algumas polêmicas, principalmente envolvendo o Thomas. Logo no primeiro episódio ficamos a saber que ele é homossexual e sua repressão seria um dos fatores que ocasionam este ódio que ele guarda em si. Não fica claro se a O'brien sabe deste segredo do seu "amigo fiel", mas entende-se que sim, porém isso nunca é compartilhado, talvez apenas através de olhares e alguns diálogos afiados. Uma certa polêmica foi gerada, principalmente em alguns blogs de notícias, alimentado o fato de que geralmente os personagens gays são maléficos. Isso não deixa de ser verdade, ainda mais os reprimidos, mas sabemos muito bem que na sociedade ainda preferem submeter o que é "diferente" ao contexto da deturpação e simplesmente taxar de ruim. Se eu acho que os roteiristas que têm personagens gays em suas obras geralmente fazem isso? Sim, com certeza. Mas as coisas estão mudando, e os estereótipos e preconceitos diminuíram. Por isso eu digo que o Thomas não é colocado na série como algo "ruim porque é gay", como algumas séries e filmes já tentaram dizer em seu momento "Marcos Feliciano" de ser (haha!). Ele acaba sendo uma pessoa rancorosa e invejosa por causa da sua condição social. Ele é alguém ambicioso, até demais, e a sua homossexualidade - pelo menos para ele - não é algo que realmente o faça odiar o mundo, não. Ele aceita bem isso, só ainda é reprimido (na primeira temporada!). E com a ajuda de O'brien, eles vão tentar derrubar muita gente que parece ter alcançado certa felicidade. É uma guerra de egos. A O'brien, minha preferida da dupla, consegue sempre ser a "cabeça" dos planos malignos e, com seu acesso bem maior à mansão, sempre consegue derrubar uns sabonetes para realizar alguns tropeços poderosos (hahahahaha, quem viu a segunda temporada, entendeu!).

 O que eu quis dizer com essa explanação acerca destes dois serventes? Que o foco acaba sendo muito maior nesta ala, e as polêmicas concentram-se, em sua maioria, aqui. É bem para mostrar que, sem os que estão embaixo, a coisa nunca funcionaria na parte de cima, nem de longe! Quando eles querem, eles conseguem mudar o rumo de qualquer decisão dos patrões poderosos, sem tirar nem por. Mas agora já é hora de pular para a segunda temporada.



 Vou falar desta temporada de forma rápida, pois a odeio. É, acredite! Depois de uma primeira temporada espetacular, esta segunda perde o rumo total. Não pelo fato de um Roteiro ruim, até que não, mas pelo contexto apresentado mesmo: a Primeira Guerra Mundial. A primeira temporada acaba exatamente com o anúncio, feito pelo Lorde Grantham, de que a guerra teve início (e uns pulos temporais, pois nem parece que anos se passaram em apenas seis episódios, isso é uma coisa ruim, mas que dá para deixar passar). A segunda temporada começa exatamente na comoção da guerra, e muitos personagens decolam num drama absurdo de idas e vindas em tiroteios explosivos e uma mansão que parece estar mais em pé de guerra que os próprios terrenos minados. Com a ideia de transformar a mansão num hospital temporário para tratamento dos feridos da guerra, e até como retiro para os poderosos que lutaram "bravamente" nela, Downton Abbey fica nesta viagem de mostrar homens com suas "responsabilidades" de luta e de mulheres que, ou tornam-se enfermeiras, ou ficam administrando casas. Mas não posso negar que alguns personagens, como a mãe do Mathew (a Isobel Crawley - interpretada pela ótima Penelope Wilton, veterana em produções de época!), que se torna insuportável, mas bem presente como uma enfermeira aposentada que decide lutar para a melhoria local. E a Lady Violet (Maggie Smith, a melhor!) também se mostra bem mais presente na série e muito mais madura no que condiz ao seu conservadorismo irritante, pois ela se torna uma personagem bem mais equilibrada nas atitudes e decisões. Eu diria que esta segunda temporada dá um espaço muito maior à ala nobre da série, com certeza. Num mix de nobreza e classe média. Desta vez os serventes ficaram em última instância, e talvez este tenha sido outro defeito. Mas o impacto final desta temporada é de abalar os nervos de qualquer um, pois aqui, com o sucesso estrondoso da série na primeira temporada, decidiram começar a encomendar 8 episódios para uma temporada completa, adicionando (sempre no Natal) um episódio "especial" natalino - na ficção e realidade.

 O "problema" destes episódios natalinos, e quem acompanha a série terá de concordar comigo, é que sempre acontece alguma desgraça aqui. E começa a saga de Downton Abbey à maldição dos episódios natalinos "sangrentos". Isso é ruim? Claro que não. São acontecimentos que, na série, poderiam surgir a qualquer momento, mas o bizarro é que sempre precisa ser no episódio de Natal (haha!). No especial da segunda temporada temos um ato da O'brien que me fez realmente ter a certeza de que ela é, sim, a vilã da série. Uma personagem que não mede esforço algum para conseguir o que quer e, para isso, fez o que fez. É cruel. E ainda tempos a morte de uma querida personagem da nobreza. E começam os Jogos Vorazes de Downton, fato! Mas enfim, não vou falar mais nada, e quem quiser saber o que irá acontecer é só assistir suas estratégias maquiavélicas.



 Na chegada da terceira temporada - a minha favorita, de longe! - temos o início da década de 20. Aqui, ao meu ver, são inseridos todos os elementos que fazem com que a série seja inserida num patamar épico: contexto temporal, a esperança de conseguir colocar o Roteiro nos eixos depois da chatice da segunda (eu nem tinha esperanças, mesmo!), e a adição de dramas muito mais detalhados e personagens bem mais evoluídos.

 Nesta temporada teremos de tudo, aviso logo! Com o final da guerra, a mansão voltou aos eixos, mas claro, fica marcada para sempre. As paredes de Downton Abbey nunca mais serão as mesmas. Temos um total equilíbrio entre a nobreza e a classe dos serventes, outra coisa épica que Jullian Fellowers conseguiu fazer aqui. Eu creio que ele viu a tremenda "cagada" que fez com a segunda temporada e se esforçou muito para transformar Downton novamente numa série de peso, e pode ter certeza de que ele conseguiu o feito. Com a terceira temporada a série conseguiu as melhores críticas do mundo especializado e ainda fora indicado para quase todos os prêmios internacionais. Merecidamente!

 Com um Roteiro, eu diria, mais pesado, dramas interessantes irão desenrolar-se na trama. Como no caso de Lady Mary, que ficou no quero-mas-não-quero com o Mathew e acaba se envolvendo com um magnata psicopata e controlador que descobre seus segredos mais íntimos (estes que ocorrem na primeira temporada) e à ameaça, forçando-a a torna-se a sua noiva. O Mathew assume um papel mais responsável, afinal ele saiu de uma guerra e enxerga agora o mundo com outros olhos, porém, em relação à Mary, continua o mesmo "banana podre". Temos o drama da morte - eu terei que falar, SPOILEEEEEER - da Sybil, a irmã mais nova do trio das mulheres Crawley, a depressão ronda todos os lugares da mansão de uma forma impactante. E, para piorar, a filha que ela teve com o motorista revolucionário, é outro patamar para mais brigas. Primeiro que o Lorde Grantham não aceita o fato da filha ter engravidado de um mero empregado (no caso, o Branson) e a menina parece que será jogada ao relento pela família junto com o pai. E segundo que a morte da Sybil fora ocasionada por uma Eclâmpsia, ou seja, a culpa recai sobre o nascimento em si da menina, do doutor, e novamente do pai. É fagulha voando para todo lado neste drama. Esse começo é depressivo? É, bastante, mas necessário. Com tudo isso acontecendo, a série vai retomando os eixos, e uma nova estrutura surge, em todos os aspectos. Todo este contexto ajuda demais na evolução de cada personagem. Todos - sim, todos! - agora parecem ser multifacetados. E uma nova briga surge: quem está mais interessante que quem na série? ;)


 Temos aqui diferentes trilhas para cada ser que vive/frequenta Downton. Entre o fim da guerra e um novo recomeço, todos tentam se concentrar num retorno à rotina que nunca mais será a mesma. Na área nobre, como já mencionei, teremos Mary e seus percalços com o maluco, Mathew irritante, a chegada da mãe americana da Cora Crawley, uma Edith (a filha do meio dos Crawley) que deixa de ser apenas uma pedra no sapato dos outros e decide tomar um rumo na vida - mesmo que este seja o seu primeiro passo numa jornada de muito sofrimento, coitada -, um Branson que deixa de ser motorista e é atirado na nobreza sem aviso prévio com todos os olhares voltados para si, uma O'brien que  se arrepende do grande estrago que fez e decide "melhorar", um Thomas que retorna da guerra humilhado e com sonhos destruídos mas que consegue se libertar de sua repressão e tem uma continuação muito boa em Downton, etc. São muitas e muitas outras coisas também, aí só destrinchei os "principais". Os 8 episódios poderiam nunca terminar que eu iria continuar assistindo. Eu assisti a esta temporada, creio eu, umas três vezes.

 E com o decorrer desta terceira temporada, colocando numa peneira todas as importantes tramas e guerras pessoais que são travadas entre personagens, não há como destacar dois: o Thomas e o Branson. Mesmo que estes realmente tenham uma revamp somente a partir da metade da temporada, suas jornadas são as que mais metamorfoseiam-se nos corredores de Downton Abbey. O Thomas, no qual eu não via mais esperanças - afinal este ficou a depressão em pessoa depois de seu tiro no escuro durante a guerra e seus trambiques deram 100% errado -, acaba mergulhando num esforço tremendo de retornar aos eixos como um empregado da mansão digno de confiança novamente, e nesta jornada muita coisa acontece. É revelado, pelo menos para o ambiente Downton Abbey, que ele é gay e, outra coisa incrível acontece, acabam aceitando-o e até ajudando-o no que confere ao seu estado emocional. Ele acaba se reerguendo, porém com um fôlego reavivado para sua ambição que somente cresce. Este seu fortalecimento, criado pelo contexto de não precisar esconder mais nada, acaba sendo mais uma parede pra ele conseguir colocar seus planinhos maléficos para funcionar e a quarta temporada demonstra muito bem isso. Já no que diz respeito ao Branson, eu passei a gostar demais dele. Eu o odiava antes, pois só conseguia enxergar um ativista que colocava em risco a tudo e a todos por seus "ideais" de luta. Não interessava para ele se a pessoa que ele amava estava correndo risco de vida, a luta era mais importante, e isso eu não posso aceitar. Suas convicções políticas sempre foram dignas de elogio, mas só. Nesta terceira temporada ele acaba sendo inserido forçadamente na ala nobre, pois agora é viúvo de uma das Crawley e tem uma filha para criar (também chamada de Sybil). No começo a aceitação, tanto para ele como para os que antes eram seus patrões, é bem complicada. Mas no decorrer da temporada a coisa vai equilibrando-se e o Branson acaba encaixando-se perfeitamente como um emergente, por assim dizer, na ala nobre. Mas é realmente na quarta temporada que algumas coisas serão mais embasadas em relação ao seu rumo neste complexo e conservador terreno da aristocracia inglesa.

 Sobre o episódio de Natal daqui (haha!). O mais dramático possível. E terei que contar o que ocorre, pois não teria como falar da nova temporada sem este spoiler. Portanto, cuidado, SPOILERRRRR ALERT! O tenso e demorado episódio (isso não o torna ruim, longe disso!) acaba com a morte do Matthew Crawley (que havia praticamente acabado de casar com a Mary e com um filho recém nascido para cuidar) num acidente de carro ridículo - mas era de se esperar uma morte infame e rápida mesmo para ele na série, pois o ator já havia anunciado que queria deixar o elenco para seguir outros rumos em sua carreira (aiai, tá bom, né!?). Então ele já termina dizendo "A quarta temporada será debulhada em lágrimas, prepare-se. Muito drama vem aí!". Não deixa de ser verdade, mas também não é para tanto como eu imaginava. E agora vamos à quarta e última temporada (por enquanto, pois a quinta temporada já fora anunciada, yey!!).



 E agora, chegando ao final deste big post, a quarta temporada. Bem, é a temporada que está mais fresca em minha mente, logicamente, mas isso não quer dizer que é a que melhor posso detalhar. Por quê? Ah, é estranho, mas eu não a considero tão boa, e pelo fato de possuir tantos detalhes que foram jogados de forma tão rápida, eu acabei não focando (talvez) no que eu realmente queria. Por isso garanto que ainda a assistirei novamente, e daí eu possa a vir mudar de opinião. Mas vamos aos comentários acerca desta.

 O começo, claro, gira em torno do drama da Mary que acabara de ficar viúva do Matthew. Parece que a temporada vai ficar toda nisso, pois a Mary - que já era uma personagem chata que tenta ser provocante - acaba ficando o cúmulo da depressão. Decide que não quer mais viver e não liga para o seu filho recém nascido. O círculo da trama acaba sendo em torno dela e de como trazê-la de volta aos eixos (pelo menos parecia!). Isso dura até, mais ou menos, o terceiro episódio. Depois que ela consegue se reerguer e é atirada aos negócios da família, afinal ela terá que ser o que antes o marido era e tomar decisões que garantam o futuro de Downton e a herança do seu filho, as coisas começam a andar na série. Parece que o carro sai do atoleiro, por assim dizer. A quarta temporada, para mim, começa agora. Seremos apresentados à diversos outros dramas, alguns antigos e outros novos, interessantes ou massantes. Este é outro detalhe da temporada que não curti muito: além de começar empacado, depois nos lança num turbilhão de tramas que acabam não sendo tão interessantes quanto deveriam ser, talvez pelo número destas e ficamos sem dar a devida atenção a todas. Fato!

 Outra coisa que ainda não mencionei, a saída da O'brien da série - outra coisa ruim, que acaba desfalcando as melhores tramas que estavam a se desenvolver. Ela nem aparece na temporada. Só nos é mostrado, logo na primeira cena, uma mulher (vestida como a eterna O'brien, pois aposto que nem era a atriz) deixando Downton Abbey às pressas, e depois ficamos a saber que ela deixou o trabalho na mansão por algo muito melhor e uma vida de inúmeras viagens. Claro, esse "desfecho" da personagem se deve ao fato da "crise" criada pelo ator que interpretava o Matthew - não querer ser considerado um eterno personagem de Downton Abbey. Eu não critico isso, afinal, para um ator/atriz, seguir novos rumos e pegar melhores papéis sempre deve significar tudo, mas eu não sei bem se eu aceito uma decisão dessas ainda mais quando personagens que eles mesmo deixaram tão cativantes e com um ótimo caminho na trama deveriam ser "assassinados" e, pior, por eles próprios. Contradições à parte, a O'brien nos deixa nesta temporada, sem pagar pelos seus crimes, sem definir sua trama e acabamos por perder um grande destaque da série, infelizmente.


 Falando agora de um contexto geral, ou melhor, fazendo um resumão e já adicionando também o episódio de Natal (que, por incrível que pareça, foi o melhor de todos até o momento e NÃO foi dramático!), vamos às tramas principais que teremos na temporada.  Destaco o drama do Branson e sua filhinha Sybil na mansão, de longe. O rapaz passa a ver-se como um intruso naquela sociedade densa e puramente hierárquica e começa a questionar os seus motivos de ter aceitado manter-se ali e se deve mesmo ficar em Downton. A sua aproximação com a Mary cresce, ainda mais por esta estar com um filho recém nascido e assim uma companhia eterna para a sua garotinha - eu admito que queria muito que o Branson e a Mary ficassem juntos, mas não vai rolar, fato. Enfim, o Branson acaba sendo o verdadeiro destaque da temporada, mesmo. Depois temos a irmã mais nova do que antes era um trio Crawley, a Edith. Vejamos, a Edith é uma das personagens que eu mais vi crescer diante de todas as temporadas. Ela passa por uma escada de desafeto, rancor, amargura, ódio, alegria, preconceito, pura alegria, extrema alegria, depressão profunda. Pronto! Ela sim é uma personagem que a cada nova temporada enxergamos nitidamente a sua evolução. Mas infelizmente o roteiro não está a seu favor e ela sempre, mas sempre, tem que sofrer e muito. Eu diria que dão um sonho recheado de creme pra ela, ela corre pra comer e vem uma pessoa e o derruba no chão e pisa, aí ela chora e se ferra. Nesta quarta temporada temos a pior situação já ocorrida com ela e eu, sinceramente, não vejo mais uma luz no fim do túnel para a coitada, apesar de gostar muito dela (agora). Outro destaque desta temporada, num turbilhão de acontecimentos, são as discussões sociais (por assim dizer). Temas tabú até hoje, como racismo e estupro. São assuntos que atingirão a todos do círculo no qual estará presente, então prepare-se para muito drama nestes quesitos. O Thomas perde destaque nesta temporada, infelizmente. O foco entre os empregados ficará entre a Anna e o Bates (o casal perfeito de empregados), e o Alfred (um dos mordomos de Downton e sobrinho da O'brien) que decide virar Chef e sair da mansão para tomar novos rumos. Bem, é praticamente isso. Se eu for citar mais coisas acabarei falando de toda a temporada e é sempre bom guardar surpresas (sim, há umas boas). O episódio natalino acaba mesmo vindo para fechar com chave de ouro esta temporada fraquinha, porém divertida. Adorei-o, foi na medida certa e acaba finalizando certos pontos que ainda estavam sem uma "conclusão" definitiva. E deixa espaço para uma quinta temporada promissora, isso com certeza.

 Pessoal, este big post acerca de Downton Abbey foi uma coisa que eu planejava há séculos. Sempre quis falar sobre a minha série inglesa favorita e de uma forma assim, bem detalhada. Então espero que tenham gostado, mesmo aqueles que não a conheciam ou simplesmente não gostam da série. Foi um texto meio demorado para ganhar vida (haha!) mas foi muito bom de ser escrito. Espero que sintam isso ao lê-lo, uma coisa leve e minhas cutucadas de sempre - isso não pode faltar! Yep! E agora é aguardar a quinta temporada, que já fora confirmada. Mas ah, só mais uma coisa, quem ainda não conhece a série, corra para assisti-la, pois é um marco na história televisiva mundial. Isto é fato. Qualquer coisa venham reclamar diretamente comigo por tê-la indicado, mas com bons argumentos, por favor. ;) Até o próximo post, que também será um especial, mas só saberão do que se trata quando eu lançá-lo. Surpresa, surpresa!


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