sábado, 7 de junho de 2014

The Last Door - uma ode fascinante a todo universo do horror cósmico e gótico existente na literatura clássica estrangeira.


 Olá para tod@s! Sei que sumi por um tempo, mas agora estou tentando retornar, é sempre assim, fazer o que? hahahahahahaha, já encarei esta realidade. Mas bem, vos trago esta grande surpresa do universo gamer indie - The Last Door (vale ressaltar que esta minha análise veio da versão Deluxe que começou a ser vendida recentemente na Steam, okay? Que vem com todos os 4 episódios da primeira temporada do game). O jogo prometia um mergulho ao universo lovecraftiano e gótico, ou seja, um mix de H. P. Lovecraft com Edgar Allan Poe e ainda com uma pitada de Robert W. Chambers (percebi isso também pelos trailers instigantes do game), mas não é somente isso, pessoal. Não mesmo! Há muito mais nesta trama amarradíssima e de primeira categoria. O jogo é lindo em todos os sentidos, e venho aqui para falar exatamente disto. E vamos lá que a revolução nunca acaba - ela parece acabar às vezes, mas isso é intriga da oposição, haha! ;)


 Hummm, por onde começar? Difícil, mas bem, irei começar falando dos criadores deste belo game, o que eu classificaria como um jogo não somente de adventure e de arte, mas um jogo apaixonado pelo tema. Fica claro, desde os primeiros momentos do game, que seus criadores amam este universo e fica quase certo de que o que iremos presenciar durante todos os episódios será um lindo show para os olhos. E é. The Last Door começou de um jeito estranho, ou melhor, nem tão estranho para os dias de hoje (onde temos os Kickstarters da vida, ou seja, sites onde podemos financiar ideias, não só de jogos, mas para todo tipo de coisa). Diante de um site próprio (http://thelastdoor.com/index.php/home), TLD começou há um bom tempo com uma promessa de um primeiro episódio que evocava muita coisa acerca do horror cósmico e gótico, mas tudo era apenas um vislumbre. A produtora do game é a The Game Kitchen (localizada, aparentemente, na Europa), e esta dizia-se desde sempre apaixonada pelo que estava construindo ali naquele roteiro. Eu mencionei um começo estranho, pois bem, é que os criadores ficaram buscando financiamento pelo próprio site propondo metas e "recompensas" para os primeiros que ajudassem no financiamento, etc. Eu acho que o jogo teria se dado bem numa busca por financiamento através do Kickstarter, mas talvez eu esteja bem errado. E enfim, esta busca de financiamento por cada episódio em separado (o primeiro saiu, daí diante do estímulo gerado pelo final deste lançaram a ideia do segundo, e assim por diante até o quarto da temporada). E deu muito certo, ainda bem! E com isso chegaram ao ponto de unificar toda a temporada em um único game e torná-lo rentável digitalmente (através da Steam, GOG, etc e patrocinado pela Phoenix Online Studios) como um aplicativo completo. E deu MUITO certo novamente, que bom! Vale ressaltar que (pelo visto), você pode jogar os episódios separadamente e sem muitos implementos pelo próprio site do game, mas com algumas exceções e travas, de graça. Eu indico que compre mesmo o game completo pela Steam (foi exatamente o que fiz), pois vale muito a pena e você estará ajudando os caras a financiar de forma ainda mais rápida a segunda temporada de The Last Door, que promete demais!


 Agora adentrando no jogo em si, vou destrinchar os detalhes que tanto me fizeram babar pelo game. Como podem perceber, o game é feito através de uma engine retrô total (lembrando aqueles jogos do Atari praticamente), mas esse efeito proposital dado ao game funciona perfeitamente. O jogo é lindo como está e não o enxergo mais de outra forma, mesmo! Essas pessoas que não irão jogá-lo por causa "dos gráficos" (já li muitos comentários assim, e isso só me entristece), sinto dizer que são uns fanboys ridículos e não sabem o que estão perdendo (estou cansado de ver tanta gente, principalmente desta nova geração, somente correr atrás de gráficos. É por isso que a indústria está tão carente de tramas que realmente valham a pena, triste). Enfim, o protagonista da trama macabra (Jeremiah Devitt) irá explorar cenários aterradores numa Grã-Bretanha de 1890 em busca de respostas para um mistério que diz respeito não somente a ele próprio, mas a algumas outras personalidades do seu passado. Estas respostas se tornarão cada vez mais difíceis de serem respondidas (cada episódio parece enevoar ainda mais a trama e as respostas transformam-se em novas perguntas), mas isso é ruim? Claro que não. Parece que estou querendo dizer que o game fica enrolando o jogador, mas não é nada disso. Queremos sempre mais, e a trama sabe equilibrar todo o processo, pois o roteiro aqui é fenomenal.


 Bem, eu digo que para mim é fenomenal, pois tudo no game transborda homenagens aos meus autores preferidos da literatura do horror cósmico: H.P. Lovecraft e Robert W. Chambers. Edar Allan Poe está presente praticamente a todo momento, tanto que eu diria que o game é quase que 80% gótico e com muitos corvos (para bom entendedor...), mas admito que Poe não faz muito o meu estilo de leitura (considero o gótico algo chato - me julguem! hahahahahaha), e se o game fosse somente baseado em sua literatura eu não o elogiaria tanto. Como falei, 80% seria de Poe no game, mas os 20% restantes para mim é o que tornam o game evocativo, pois para quem conhece o horror cósmico de Lovecraft e o clássico "O Rei de Amarelo" de Chambers, irá se arrepiar de emoção! Sério! Tudo é muito bem implementado, e eu nunca diria que - sendo bem direto agora - corvos funcionariam tão bem com entidades do horror cósmico, haha! E, se não leu ainda "O Rei de Amarelo", digo que irá perder a oportunidade de se deleitar com grandes homenagens, pois nunca vi (em canto algum mesmo!) utilizarem tanto a literatura de Chambers e de uma forma tão descarada como aqui em The Last Door! Palmas! Fazendo agora um resumão, TLD é 80% Poe, 13% Chambers e 7% Lovecraft (porque, na verdade, Lovecraft aqui é o ambiente, a trilha sonora, o contexto. Não há nada direto, tudo é apresentado como uma névoa que apenas aqueles que conhecem a literatura do autor poderão enxergar através desta e aplaudir de pé tudo que irá observar. Portanto diria que estes 7% poderiam facilmente serem considerados mais importantes do que todo o resto, vai depender do ponto de vista).


 Agora dando um pulo para as partes técnicas do game, somente trago mais elogios. Graficamente, como já havia mencionado, o game penetra numa engine retrô sem dó nem piedade e faz isso muito bem, sem medo de errar. Diria que foi uma aposta bem arriscada, ainda mais numa geração fadada ao endeusamento dos gráficos, mas deu tudo certo (e muito na verdade!). Outro risco que tomaram foi o total foco na história diante de gráficos assim, ainda mais numa que evoca a todo momento autores de uma literatura considerada ainda "de submundo", um horror mais complexo e personagens nada (NADA!) simples. Diria também que o game é deveras poético e, diante de tantas passagens (até grotescas), consegue ser lírico mesmo assim. É realmente um feito! O horror cósmico não é algo bonito, não é para qualquer um, e sua mitologia transcende não somente gerações, mas também universos. Portanto, para encarar um Lovecraft da vida, você tem que estar aberto a algo que você realmente não conhece, apenas pensa conhecer, e no fundo sabe que nunca irá conhecer realmente. Tudo está interligado numa corrente de sci-fi, horror e deuses planetários, mas que parecem almejar a Terra e sua população a todo custo. O plano é apenas o tormento, e os humanos são apenas cobaias. Terás pavor eterno destes grandes mistérios, mas irás adorar mergulhar nestes mesmo assim. Isto seria a minha definição para o "horror cósmico", um pavoroso mistério que adoramos investigar.


 Agora vem o gótico. Eu vejo o "gótico" apenas como algo feio e triste, porém carregado de poesia. Mas na verdade tudo se frustra neste mix inconcebível. Isto é o gótico para mim. Tudo sempre nublado, com um pavoroso enredo melancólico e carregado de lirismo. É por isso que Poe, para mim, não deslancha, hahahaha! Mas bem, por que eu fiz questão de expor as minhas definições do que viria a ser "horror cósmico" e "gótico"? Simples. Para deixar claro não somente o porquê da minha preferência, mas também justificá-la de forma detalhada, para assim chegar realmente onde quero: The Last Door. Eu amei o jogo exatamente porque ele conseguiu lançar tudo isto no liquidificador e dialogar com tudo e com todos muito bem! Como coloquei, não vejo graça no "gótico", mas o que vi no jogo me fascinou. Claro que o clima lovecraftiano ajudou (e muito!), mas esta mistura que parece inconcebível tornou-se tão boa e equilibrada que realmente só há o que ser elogiado aqui. E agora chego na trilha sonora do game. Nossa! Outro exemplo de arte. Carlos Viola, um compositor premiado, se mostra um verdadeiro entendedor do universo no qual o game mergulha, e isto torna tudo ainda mais fascinante. A cada nova música, conseguimos visualizar ainda mais aquele contexto e adentrar ainda mais na trama macabra, e digo logo que o game trás grandes surpresas sonoras, sim! Não há dublagem no jogo. Todo este funciona realmente como um grande clássico dos adventure games point-e-click (controlar o personagem apenas com o clicar do mouse) e o que fazemos é seguir uma história, resolver puzzles/enigmas com vários objetos encontrados nos cenários, abrir portas e ler bastante (diálogos muito bons, diga-se de passagem!), mas sem dublagem. Para não dizer que não há voz em nenhum momento, na verdade existem algumas passagens (pouquíssimas) que iremos ouvir certas coisas, mas isso não tem lá muito impacto no que iremos presenciar.


 Hummm..eu falei do game em si, da sua equipe, das suas belas homenagens, da parte técnica, etc. Portanto não vejo mais para onde ir, hahahaha! Adentrar mais no roteiro do game irá me fazer soltar spoilers mais malignos que o próprio universo de The Last Door, e isto seria imperdoável, com certeza! O jogo precisa ser apreciado, devagar e com muito cuidado, pois a cada novo cenário podemos encontrar inúmeras novas homenagens. É por isso que não canso de mencionar que este game é perfeito para quem conhece a literatura em que este se baseia. Isto é um fato! Mas então quer dizer que você não irá gostar do game se não conhecer Lovecraft, ou se nunca leu Poe (pois Chambers eu creio que quase ninguém leu mesmo, hahahahahaha!)? Olha, conhecer a literatura realmente não se faz necessário, mas fique logo a saber que se gostar do que presenciou no game, corra para ler estes autores que tanto explanei, sério! Pois The Last Door é apenas uma cereja num bolo lovecraftiano com bordas amarelas e desenhos de corvos (não resisto a este tipo de comentário, hahahahahaha!). Agora é aguardar a Segunda Temporada do game que - ainda bem! - já está financiada através do site, então pode sair a qualquer momento. Eu estou no aguardo, pois quero ver onde esta tenebrosa jornada de Jeremiah Devitt irá parar, e você!? ;) OBS: todas as imagens do game utilizadas nesta postagem foram tiradas da minha própria jogatina através da Steam.
 

2 comentários:

  1. Olá

    Estou escrevendo por causa de um projeto que envolve a obra do H. P. Lovecraft que acho que tem tudo a ver com o site.

    É a publicação de um livro ilustrado bilíngue com desenhos do reconhecido ilustrador gaúcho Walter Pax dando formas às criaturas imaginadas pelo gênio do terror H. P. Lovecraft. Junto das ilustrações, há algumas passagens de livros como O Chamado de Cthulhu e Nas Montanhas da Loucura.

    Recentemente, o Pax ilustrou a versão brasileira do RPG O Chamado de Cthulhu e também já ilustrou ou participou de diversos outros livros, como a antologia The Workman, que concorreu ao prêmio Will Eisner – o “Oscar dos Quadrinhos”.

    Ele me convidou para ser o editor e conseguir viabilizar financeiramente a obra, um sonho dele que é grande fã do Lovecraft. Então montamos o projeto na plataforma catarse de financiamento coletivo: http://catarse.me/Love

    No catarse, as pessoas podem adquirir recompensas (a principal é comprar o livro) e se atingirmos um valor mínimo, teremos recursos para publicar o livro. Se não conseguirmos alcançar esse mínimo, todos recebem o dinheiro de volta.

    Se gostar, aproveita que os 30 primeiros a comprarem o livro tem um desconto super especial. Há também outras recompensas exclusivas para os primeiros, como livros com capa dura, numerados e autografados.

    Lá no site e também na página do facebook – http://www.facebook.com/pages/Love/723637884351657 – você vai encontrar mais informações. Mesmo que não possa adquirir um livro ou outra recompensa, curtir a página do facebook e compartilhar os posts já é de grande ajuda.

    Inclusive, se quiser posso mandar ilustrações já feitas pelo Walter Pax para uma matéria no site ou mesmo podemos marcar uma entrevista com ele.

    Qualquer dúvida, é só me perguntar.

    Abraços e muito obrigado!
    Alysson Ramos Artuso
    http://catarse.me/Love

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    1. Olá, Alysson! Muito interessante mesmo o projeto. Como fã incondicional de Lovecraft, dou o maior apoio. Estou meio sumido aqui no Blog, pois ando mesmo sem tempo, mas fiquei curioso acerca do trabalho que estais realizando. Se possível, poderias me enviar algumas ilustrações pelo email aqui do Blog. Agradeço muito. ;D

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